sábado, 13 de julho de 2013

O Brasil mudou: nova geração quer escrever a própria história


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ditabranda

por Gilson Sampaio
Saudemos o despertar de meninos e meninas ávidos para tomarem as rédeas da história. Saudemos os substitutos e continuadores da resistência ao capitalismo, bandeira humanista ainda sustentada pelos “velhos e velhas dos anos  ‘60 e ‘70”.
O Brasil mudou. Os tempos são outros. A alienação, a apatia, o marasmo deram lugar ao ativismo político nas ruas a reclamar o protagonismo do povo como o principal escritor da própria história.
Erros e acertos vão acontecer, é assim mesmo, como sempre foi na história.
Nós, os “velhos e velhas dos anos  ‘60 e ‘70”, não estamos condenados à retirada e ao ostracismo, não, apenas devemos ceder espaço e experiência pela continuidade da nossa luta.
O Brasil mudou e quem não aceitar a mudança vai perder o bonde.
De Dilma para Octavio Frias de Oliveira e deste para Estela (codinome de Dilma na luta contra a ditadura)
Na festa em comemoração aos 90 anos da Folha de S.Paulo a presidenta Dilma fez um discurso lamentável. Em certo trecho, ela assim se referiu a Octavio Frias de Oliveira, fundador da Folha:
"Ele foi um exemplo de jornalismo dinâmico e inovador. Trabalhador desde os 14 anos de idade, ele transformou a Folha de S.Paulo em um dos jornais mais importantes do país e foi responsável por revolucionar a forma de fazer jornalismo no nosso Brasil."
Agora vejam como Octavio Frias de Oliveira se referiu a Dilma e a todos os seus companheiros de luta contra a ditadura (chamada pelo filho de Octavio de "ditabranda"), em editorial publicado nesse jornal tão elogiado pela presidenta:
Editorial escrito por Octavio Frias de Oliveira.
Editorial: Banditismo
[Publicado em 22 de setembro de 1971]
Octavio Frias de Oliveira
A sanha assassina do terrorismo voltou-se contra nós.
Dois carros deste jornal, quando procediam ontem à rotineira entrega de nossas edições, foram assaltados, incendiados e parcialmente destruídos por um bando de criminosos, que afirmaram estar assim agindo em "represália" a noticias e comentários estampados em nossas paginas.
Que noticias e que comentários? Os relativos ao desbaratamento das organizações terroristas, e especialmente à morte recente de um de seus mais notórios cabeças, o ex-capitão Lamarca.
Nada temos a acrescentar ou a tirar ao que publicamos.
Não distinguimos o terrorismo do banditismo. Não há causa que justifique assaltos, assassínios e seqüestros, muitos deles praticados com requintes de crueldade.
Quanto aos terroristas, não podemos deixar de caracterizá-los como marginais. O pior tipo de marginais: os que se marginalizam por vontade própria. Os que procuram disfarçar sua marginalidade sob o rotulo de idealismo político. Os que não hesitaram, pelo exemplo e pelo aliciamento, em lançar na perdição muitos jovens, iludidos, estes sim, na sua ingenuidade ou no seu idealismo.
Desmoralizadas e desarticuladas, as organizações subversivas encontram-se nos estertores da agonia.
Da opinião pública, o terror só recebe repudio. É tão visceralmente contrario às nossas tradições, à nossa formação e à nossa índole, que suas ações são energicamente repelidas pelos brasileiros e por todos quantos vivem neste país.
As ameaças e os ataques do terrorismo não alterarão a nossa linha de conduta.
Como o pior cego é o que não quer ver, o pior do terrorismo é não compreender que no Brasil não há lugar para ele. Nunca houve.
E de maneira especial não há hoje, quando um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social - realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama.
O Brasil de nossos dias é um país que deseja e precisa permanecer em paz, para que possa continuar a progredir. Um país onde o ódio não viceja, nem há condições para que a violência crie raízes.
Um país, enfim, de onde a subversão - que se alimenta do ódio e cultiva a violência - está sendo definitivamente erradicada, com o decidido apoio do povo e da Imprensa, que reflete os sentimentos deste. Essa mesma Imprensa que os remanescentes do terror querem golpear.
Porque, na verdade, procurando atingir-nos, a subversão visa atingir não apenas este jornal, mas toda a Imprensa deste país, que a desmascara e denuncia seus crimes.
Sobre o motivo do ataque aos carros da Folha, nenhuma palavra. Mas uma declaração do jornalista Mino Carta lança luz sobre o assunto:
A Folha de S. Paulo nunca foi censurada. Até emprestou a sua C-14 [carro tipo perua, usado na distribuição do jornal] para recolher torturados ou pessoas que iriam ser torturadas na Oban [Operação Bandeirante]."
Hoje, Dilma elogiou Octavio. O que diria Estela, seu codinome na luta contra a ditadura?
O que diria Estela à jornalista Rose Nogueira, sua companheira na prisão? Rose foi presa em novembro de 1969, quando ainda amamentava o filho de pouco mais de um mês de vida. Torturada, privada da companhia do filho, Rose ficou presa por nove meses.

Cheguei à história de Rose Nogueira, graças ao artigo O papel sujo da Folha de S.Paulo, escrito por Uraniano Mota.
Encontrei o depoimento da jornalista no DHNet.
Vinte e sete anos depois, descubro que fui punida não apenas pela polícia toda-poderosa daqueles tempos, pela “justiça” militar que me absolveu depois de me deixar por nove meses na prisão, pela luta entre vida e antivida nesse período.
(...) Ao buscar, agora, nos arquivos da Folha de S. Paulo a minha ficha funcional, descubro que, em 9 de dezembro de 1969, quando estava presa no DEOPS, incomunicável, “abandonei” meu emprego de repórter do jornal. Escrito à mão, no alto: ABANDONO. E uma observação oficial: Dispensada de acordo com o artigo 482 – letra ‘i’ da CLT – abandono de emprego”. Por que essa data, 9 de dezembro? Ela coincide exatamente com esse período mais negro, já que eles me “esqueceram” por um mês na cela.
Como é que eu poderia abandonar o emprego, mesmo que quisesse? Todos sabiam que eu estava lá, a alguns quarteirões, no prédio vermelho da praça General Osório. Isso era e continua sendo ilegal em relação às leis trabalhistas e a qualquer outra lei, mesmo na ditadura dos decretos secretos. Além do mais, nesse período, caso estivesse trabalhando, eu estaria em licença-maternidade.
O que teria levado a presidenta a proferir seu lamentável discurso?


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